Light 120 anos
- apbraslight
- 12 de jun.
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Por Celso Braga, Conselheiro da APB
Em 17-07-1899, a Light and Power Company Limited foi autorizada pelo Presidente do Brasil, Dr. Campos Salles, a funcionar em território brasileiro, no Estado de São Paulo, com sede na rua Coronel Xavier de Toledo nº 23, na região central da capital paulista.
Em 09-06-1904, a Light foi autorizada pelo Prefeito do Rio de Janeiro, Dr. Pereira Passos, e pelo Presidente da República, Dr. Rodrigues Alves, a funcionar no Rio.
Em 12-01-1979, a Eletrobrás adquiriu o controle acionário da Light, ficando o setor de energia elétrica do Brasil inteiramente nacionalizado.
A Light abastece 31 municípios no Rio de Janeiro, distribuindo energia elétrica para cerca de 11,6 milhões de pessoas, suprindo também inúmeras indústrias, importantes órgãos públicos e privados e outros empreendimentos .
A Light, que foi pioneira no campo previdenciário, preocupava-se também em estimular e coordenar as inúmeras promoções esportivas, sociais e culturais entre os empregados, como forma de melhorar a integração na comunidade de trabalho. Coisa própria de povos de cultura inglesa como o Canadá.
Nos anos de 1930, a Light chegou a ter 22 agremiações esportivas e recreativas no Rio. Entretanto, com o passar dos anos, algumas dessas associações foram extintas e outras foram criadas.
Nos anos de 1950, a Light e suas companhias associadas chegaram a ter 13 clubes. Entretanto, na década de 1960 existiam apenas 6 clubes, a saber:
Clube Esportivo Social Tração (fundado em 1926)
Força e Luz Atlético Clube (fundado em 1933 com a denominação de Light – Rua Larga Sport Club, modificada, depois, para Light Atlético Clube)
Clube de Tênis Independência (fundado em 1941)
Telefônica Atlético Clube (fundado em 1949)
Gás Atlético Clube (fundado em 1949)
Eletricidade Atlético Clube (fundado em 1966, resultado da fusão do Frei Caneca A.C. com o Cascadura A.C)
Posteriormente, outras agremiações surgiram, vejamos:
Clube Esportivo Social Ilha dos Pombos – 1945 (Carmo)
Social Olímpico Light – 1946 (sediado em Barra do Piraí)
Lajes Atlético Clube – 1948
Clube Excursionistas Light – 1957 (Rua Larga)
Clube Esportivo Light – 1983 (Volta Redonda)
Electra Esporte Clube – 1987 (Três Rios , Paraíba do Sul, Sapucaia e Carmo)
Associação Atlética Baixada Fluminense – 1988
Associação Atlética Oeste – 1988
O movimento sócio-desportivo lighteano contribuiu para fazer despontar para o desporto brasileiro atletas e desportistas da categoria dos que se seguem: No futebol: Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Zezé e Aimoré Moreira, Dario José dos Santos (Dadá Maravilha) e muitos outros.
No basquetebol: Orlando Gleck, Pedro Martinez e Waldemar Gonçalves, sendo que os dois últimos integraram a seleção brasileira presente aos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, além de Gloriano Marzullo e Oswaldo Ribeiro da Cruz.
Natação: Antonio Ferreira Jacobina Filho e Carlos Castello Branco, integrantes da seleção brasileira presente aos Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1932.
Árbitros: Gualter Gama de Castro, Edson Bruno da Fonseca e Affonso Lefever, árbitro da Federação Carioca de Basquetebol, e considerado o apito de ouro do Brasil, além de Claudio Vinicius Rodrigues Cerdeira, que era engenheiro , e também fez parte da comissão de arbitragem da CBF e trabalhava na manutenção de linhas de transmissão.
E mais ainda: muitas seções, divisões e departamentos possuíam equipes de futebol, mantidas por seus funcionários. Algumas delas com grande prestígio e eficiência nas suas atuações. O Força e Luz, por exemplo, chegou a vencer o Flamengo, na Gávea, por três a dois, isso na década de 1960.
Mensalmente, a Light publicava um jornal interno, denominado Turbina, distribuído entre seus funcionários. Essa publicação focalizava inúmeras atividades, mas dava um destaque especial às atividades sócio-desportivas e culturais que eram muitas.
É válido destacar que as atividades esportivas tinham cobertura da imprensa. O torneio início que abria o campeonato anual de futebol era uma festa com o desfile das equipes e a participação de bandas de música, sendo que, certa vez, chegou a ser referenciado pelo Jornal dos Esportes, um dos mais importantes jornais esportivos do país, com a seguinte manchete de primeira página: “Light rola bola dia e noite”, pelo fato de o evento, que foi iniciado às 8 horas, haver terminado às 21 horas.
Havia uma biblioteca, criada e mantida pelos funcionários, que promovia frequentemente exposições de pinturas, esculturas e fotos. Realizava também concursos de poesias, contos e crônicas.
A empresa detinha em seus quadros funcionais pintores com obras expostas em alguns dos principais museus internacionais. Contava com vários escritores consagrados e, ainda, membros da Academia Brasileira de Letras.
É digno de registro o fato de o corpo funcional da empresa haver construído uma colônia de férias que ainda existe. Nos áureos tempos daquela entidade, o empregado teria, em determinadas ocasiões, que dormir na fila formada pelos pretendentes para obter uma reserva de hospedagem, tamanha a procura.
Os funcionários criaram também uma espécie de, digamos, instituição bancária interna que concedia empréstimos financeiros aos empregados, cobrando juros absolutamente inferiores aos praticados no mercado financeiro e ainda com prazos de ressarcimentos bem mais elásticos, denominada COBANLIGHT.
Em 2 de abril de 1974, foi criada, ou melhor, a Light foi autorizada a instituir, pelo seu Conselho de Administração a Fundação de Seguridade Social Braslight, destinada à implantação de planos assistenciais em benefício dos empregados da empresa, serviços esses que permanecem sendo prestados com grande eficiência.
A empresa além de produzir, transmitir e distribuir energia elétrica para as cidades do Rio e São Paulo, mantinha ainda a distribuição do gás, os serviços telefônicos e de carris urbanos. Os serviços de carris (bondes) do Rio já foram considerados um dos maiores e mais eficientes do mundo.
A Usina Hidrelétrica de Fontes, localizada no Município de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, foi inaugurada oficialmente em 1918, considerada, na época, uma das maiores hidrelétricas do planeta. Além de produzir energia, abastecia a cidade do Rio, de água potável de primeira qualidade, o que continua fazendo até hoje.
É importante assinalar que no início do século passado não dispúnhamos de veículos movidos por motor a combustão, porquanto a fábrica Ford somente começou a produzi-los em massa no ano de 1908 e eram automóveis absolutamente primitivos. Acresce salientar que a Rodovia Presidente Dutra, que nos conduz àquela região, nem sequer existia, pois só foi inaugurada em 1951, isto é, décadas após a construção da Usina. Isso nos leva a imaginar a dificuldade que existiu para transportar para o cume daquela região montanhosa materiais diversos, equipamentos específicos e as próprias turmas de trabalhadores. Suponho que esse transporte tenha sido feito em lombo de burro.
A Usina Hidrelétrica de Ilha dos Pombos, inaugurada oficialmente em 1924, no Munícipio do Carmo, também no Rio de Janeiro, foi igualmente muito importante. A sua ampliação foi bastante cogitada pela empresa na década de 1990, entretanto não sei se foi levada adiante.
Cabe aduzir, para que se faça uma melhor avaliação da empresa naquela época, apenas um fato: No mês de outubro de 1970, a Light, Região São Paulo, executava a ligação do seu trimilionésimo consumidor, Sr. Sebastião Francisco dos Santos, operário de uma indústria paulista e residente da Rua Pinto da Luz nº 7-A, na Vila Diva, na capital paulista. A companhia preparou uma festa e presenteou o consumidor: seu filho mais velho, Antonio Sergio, ganhou uma bicicleta; sua filha, Rosaly, de 5 anos, uma boneca; seu filho Paulo Cesar, de 3 anos, um automóvel de brinquedo. Para sua esposa foram doados aparelhos de televisão, uma geladeira, um enxoval completo para o bebê que ela esperava e uma coleção de livros infantis para a leitura das crianças. Esse fato foi amplamente divulgado pela imprensa, o que deixou a Light bastante satisfeita.
É importante destacar que todo o atendimento ao público consumidor era exclusivamente prestado por funcionários usando camisa social, gravata e guarda-pó branco de mangas compridas. Esse atendimento era feito na sede da Rua Larga e nas inúmeras agências existentes.
Na época, os bancos não recebiam contas mensais de energia elétrica e não existiam loterias esportivas. O atendimento ao público consumidor iniciava às 08 horas e 45 minutos, posteriormente, passou a ser feito às 08 horas e 35 minutos, sem atraso, herança britânica, certamente.
Este trabalho foi inspirado em estudos sobre a matéria feito pelo brilhante colega Oswaldo Ribeiro da Cruz.